sexta-feira, 29 de maio de 2009

Quem é o cara?


“Que é o homem, para que tanto o estimes, e ponhas nele o teu cuidado?” Pergunta Jó a Deus no capítulo 7 e versículo 17 do livro bíblico que leva seu nome.
Augusto dos Anjos, poeta brasileiro do final do século XIX resume sua percepção a respeito do ser humano em um poema considerado estranho e cujos versos decorei desde a primeira vez que li, pois dizem muito do nada que somos:
"Eu, filho do carbono e do amoníaco,Monstro de escuridão e rutilância,Sofro, desde a epigênese da infância,A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,Este ambiente me causa repugnância...Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -Que o sangue podre das carnificinas Come, e à vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,E há de deixar-me apenas os cabelos,Na frialdade inorgânica da terra!"
Apesar de toda a fragilidade que nos é peculiar há em nós sempre a presunção de sermos semideuses e sempre nos julgamos superiores aos outros e procuramos formas de evidenciar isto.
Em um discurso de confronto, em 330 a.C. Demóstenes desqualificou seu rival citando sua origem pobre como um pecado que não podia ser perdoado: “Quando menino, você foi criado em extrema pobreza, servindo com seu pai em sua escola, moendo tinta, limpando os bancos, varrendo as salas, fazendo as obrigações de um criado, ao contrário do homem nascido livre.”
No Brasil a condição social é marcada pelo equívoco histórico que foi a escravidão negra e cujos reflexos até hoje são sentidos em todas as esferas de nossa sociedade organizada.
O único negro entre os atuais ministros do STF. Joaquim Barbosa, apenas o terceiro ministro negro da Corte em 102 anos, nasceu no município mineiro de Paracatu em 7 de outubro de 1954 (54 anos), noroeste de Minas Gerais. É o primogênito de oito filhos. Pai pedreiro e mãe dona de casa, passou a ser arrimo de família quando estes se separaram. Aos 16 anos foi sozinho para Brasília, arranjou emprego na gráfica do Correio Braziliense e terminou o segundo grau, sempre estudando em colégio público. Obteve seu bacharelado em Direito na Universidade de Brasília, onde, em seguida, obteve seu mestrado em Direito do Estado.
Eu não me envergonho de minha origem. Da infância pobre, dos trabalhos infantis, da venda de amendoim torrado, sonho e picolé na rua. Nada sou nada mas posso tudo, como diria Paulo na carta aos Filipenses: “sei estar humilhado como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece.

Um comentário:

  1. Olá Neemias. Está numa fase profícua, não é? Parabéns! Pelo blog e por ter vencido na vida.

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